Capítulo 08
Memórias da Raia
1. O Lanço da Cruz

Não muito longe do rio, no bairro de Torrón, soam os primeiros rufar de tambores. É o sinal de início do Lanço da Cruz, uma romaria que, desde tempos imemoriais, se celebra todas as segundas-feiras de Páscoa e que, atualmente, encontra a sua única representação em duas comunidades raianas: a Paróquia de Sobrada (Tomiño) e Cristelo Covo (Valença do Minho).

O encontro acontece no meio do rio. A música das ambas as margens entrecruzam-se, tal como as cruzes dos párocos encarregados de abençoar o rio. Dá início o ritual: por um bom ano de pesca e pela proteção dos barqueiros contra todos os perigos. Num dia de sol radiante, não se devem esquecer as ameaças do rio, as grandes pedras e as espessas neblinas por que muitos se afogaram. Em agradecimento, os barqueiros empenham-se em capturar uma oferenda preciosa.

2. A distância
de uma rede

Bastam vinte e cinco metros para que tudo flua. Com um acordo tácito, pescadores galegos e portugueses, estendem há décadas as suas redes, alternando os períodos de espera no mesmo rio. Nos vídeos que se seguem, recolhemos as suas memórias, geração após geração. Napoleão e Alberto falam-nos a partir das margens de Vila Nova de Cerveira, Portugal. Albita, Manolo e Nando fazem-no a partir da vizinha Goián, em Espanha. Memórias de esforço e dedicação e, nos momentos de descanso, romarias e encontros na ilha dos amores.

Dois amigos
Napoleão e Alberto

Ambos recordam nitidamente o dia em que se conheceram, quando foram à escola pela primeira vez. Desde esse dia, as suas vidas entrecruzaram-se num vaivém de experiências e profissões. Atualmente, passam os dias apegados ao Minho, mantendo vivo a ofício que herdaram: a pesca no rio.

A distância
de uma rede

Aos 78 anos de idade, Albita Rodríguez, recorda com clareza os valores e as práticas da pesca em águas transfronteiriças. Sentada à beira do Minho, partilha as suas memórias, acompanhada pelo seu filho Manolo e por Nando, também ele habitante de Goián. Duas gerações a reviverem os anos de prosperidade de um ofício cujo termo se afigura iminente.

Eliseo Alonso

Cenas de pesca

c. 1930-1950 (?)

Arquivo Eliseo Alonso
Agradecimento a Alicia Alonso

3. Ilha dos amores

Casitas brancas do Minho
Onde guardam os tesouros,
As fadas d’olhos azuis
E lindos cabelos loiros.
Filtros de beijos em flor,
Corações de namoradas,
Nas casas brancas do Minho
Guardam ciosas as fadas

Florbela Espanca
No Minho (1894-1930)

Jorge Marçal da Silva

Ilha da Boega e Ilha dos Amores, no rio Minho

c. 1900

Arquivo Municipal de Lisboa