Um rio de pedras abre caminho pela vertente ocidental da Serra de Meira. É o Pedregal de Irimia, morena de um antigo glaciar. Se prestar atenção, escutará o som da água a brotar da terra. São as primeiras águas do rio Minho, um ribeiro tímido que nasce a apenas 695 metros de altitude. Ao descer, alimenta-se de dezenas de nascentes; o seu caudal aumenta notavelmente na Lagoa de Fonmiñá. A escultura dedicada ao deus Breogán celebra-o. Chegamos à planície, a Terra Chã, uma terra hipnótica venerada por poetas, por onde o rio corre através de pântanos.
Olhada a Terra Chã, das alturas,
assemelha-se a um mar em calmaria.
Para medi-la, servem apenas duas medidas:
palpitações do coração, alqueires de alm
Manuel María, «Dimensións» (1953)
Abandonamos Terra Chã, deixando para trás a sua grande planície, atravessada por mais de uma centena de rios. O Parga alimenta o Ladra, que verte todo o seu ser no Minho.As árvores do inverno revelam-nos as Ínsulas de Rábade. Percorre 73 km, desde a sua nascente até à cidade de Lugo. Faz funcionar a central que iluminou a cidade pela primeira vez.
Os teus filhos de neve e chuva descem
coma récuas de espuma em bulideiras
pelos agrestes pastos
em verdes romarias de moinhos
para alcançar o seu sendeiro de água
e dormir docemente.
CELSO EMILIO FERREIRO
«Loubanza do Pai Miño»
Onde o mundo se chama Celanova
(Madrid, 1975), 88 [fragmento]