O Minho faz o seu percurso lentamente pela cidade de Ourense. O pintor Parada Justel, membro da Geração Sofrida, retrata algumas crianças nuas sobre a pedra quente do verão. Na imagem, o século XIX chega ao fim. Alguns espreitam marotos do alto da ponte. É a ponte romana, a Ponte Vella [Ponte Velha], testemunha da passagem do tempo. Raro é o viajante que não se detém a contemplá-la.
Ponte romana do rio Minho
Ourense, 1950-1957
Archivo Regional de la Comunidad de Madrid
Fondo Nicolás Muller
Pastor dos amanheceres,
chegas a Ourense e paras,
ficaste nos alicerces das suas pontes
e, como um boi submisso, amansas
o teu andar, a tua antiga represa
de espuma apressurada,
para olhar a cidade calmamente
e ser o seu espelho na alvorada
quando as aves espertandespertam
CELSO EMILIO FERREIRO
«Loubanza do Pai Miño»
Onde o mundo se chama Celanova
(Madrid, 1975), 90 [fragmento]
As Burgas: a lavar a roupa em águas termais
Ourense, 1947-1958
Archivo Regional de la Comunidad de Madrid
Fondo Nicolás Muller
A água está presente em todos os recantos da cidade. Várias correntes fluviais convertem-na num cruzamento natural de vias de comunicação. Nos lavadouros de As Burgas, as mulheres torcem a roupa e depositam-na enrolada nos cestos.
Com efeito, recordo a nossa visita a As Burgas, as nascentes de água quente, famosas desde o tempo dos romanos. Numa das nascentes encontrámos prazer; a água corria através de uma parede de granito, sob um arco decorado com esculturas, e em tanques, que captavam o excesso de água, as mulheres lavavam a roupa. Mas, na vizinhança de duas outras nascentes, num tanque, escaldavam-se e depenavam-se galinhas, ao passo que noutro, se cozinhava carne na água, em ebulição. Nas imediações, existem talhos e, por todo o lado, existiam carcaças que as mulheres esfolavam e limpavam, todos os cheiros e cores dos resíduos de um matadouro. E toda esta mistura fétida fervilhava; as pessoas movimentavam-se continuamente, as mulheres de pé, com água ensanguentada até aos tornozelos, vozes roucas que gritavam, o ruído dos recipientes despejados; e ouviam-se gargalhadas e as notas de uma canção que se elevavam do meio das mulheres, como bolhas de vapor a saírem de uma panela em ebulição.
CATHERINE GASQUOINE
Spain Revisited: A summer holiday in Galicia, 1911